segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

LENDO ULISSES DE JAMES JOYCE









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                                          É impressionante o número de pessoas que dizem terem iniciado a leitura do Ulisses e não a ter terminado. E olhe que não é qualquer um que diz isto. A própria Virginia Woolf alega só ter conseguido ir até  até a pagina 200. O próprio Jung confessa ter sucumbido à leitura. Se antes quando se tinha mais tempo para leitura não se conseguia terminá-lo, que se dirá de hoje em dia, com tantas diversões e fontes de informação?
                             Mas, que tem de extraordinário o Ulisses para afugentar a todos que tentam lê-lo? Também intrigante  o fato da maioria dos que falam da obra se limitar às três personagens principais, o pouco do enredo da obra e o paralelo entre a obra de Homero e nada mais. 
                            Será que o Ulisses só tem isto? É, ele o iniciador do romance moderno, como afirmam? Deixou ele seguidores, ou permanece como estrela solitária no universo da literatura?
                               Pois, eu não me envergonho de dizer que já li o Ulisses mais de cinco vezes e ainda me considero um neófito em James Joyce. Tenho comigo a tradução de Houaiss (Civilização Brasileira, 1966), uma edição da Penguim no original, uma edição em francês, traduzida com a ajuda do próprio Joyce, e a tradução espanhola José Maria Valverde. Leio-as, intercaladas, de vez em quando, tentando decifrar os enigmas e charadas que diz Joyce ter introduzindo no livro para manter professores discutindo, por séculos, seu significado, mas creiam, hoje acho que fizeram de Joyce um bicho de sete cabeças. Joyce não é bem isto. Há os que o super-estimam, e os que o subestimam. Talvez nenhum um, nem outro o tenha compreendido. Creio até, desculpem minha imodéstia, que, em alguns assuntos, o Joyce se mostre bem ingênuo. Certo que para escrever o que escreveu, naquela época, sem auxílio dos instrumentos que temos hoje,  é preciso que se tenha um grande conhecimento e isto ele demonstrou ter, razão até para que tenha Jorge Luiz Borges dito, como se dissera antes a respeito de Shakespeare,  que o Ulisses não parecia a obra de um só homem, mas de muitos. 
                                 O que mais se ressalta no Ulisses  é a inovação da linguagem, mas há também a quebra do enredo, a ausência de historinha e de heróis, presentes homens comuns. Eles bebem, se embriagam, comem, contam piadas, brigam, cagam, mijam  e peidam. Novo, novíssimo para a época. Um choque para leitores acostumados aos romances tradicionais, tanto é que Jung em artigo publicado na revista Europäische Revue diz: "Afrontei muitas páginas com desespero no coração. A incrível versatilidade do estilo de Joyce dá um efeito monótono e hipnótico" e mais: "O livro é sempre escrito em estilo muito alto, mas no entanto, longínquo, insatisfeito, irônico, sardônico,virulento, desdenhoso, triste, desesperado e amargo" e termina por dizer: "Uma obra deste tipo somente pode vir de uma pessoa com severas restrições cerebrais".  
                     Se um intelectual da têmpera de Jung fala assim, imaginem o comum dos mortais? Mas parece que é justamente aí que está a grandeza do Ulisses. Um desafio. É como jogar com um grande jogador, você só ganha com o tempo e por sorte.
                                             
                             

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