sexta-feira, 28 de setembro de 2018

NOSSO DEUS E O DOS OUTROS





                                                   Esta é a imagem da Santíssima Trindade de El Greco. Suas figuras compridas, retorcidas, angustiadas, estavam querendo dizer muita coisa que a carolice cristã não o deixou dizer. Vamos analisar com cuidado este quadro e dizer o que ele realmente diz, para que não fiquemos na pieguice dos séculos passados, como parece estar uma grande parte da população. A gente ri das religiões dos outros, de seus símbolos, mas não tem coragem de ter um olhar crítico para nossa religião. A gente, ou por preguiça mental ou por uma espécie de respeito aos antepassados, não se pergunta da veracidade de alguns relatos, da autenticidade de certos símbolos. Observem este Cristo todo desmilinguido sendo segurado pelo Deus Pai. Estará morto ou vivo? Vejam o Deus Pai com dois cones na cabeça, seria a incarnação do Deus celta Cernunos? Ou seria uma representação do Deus Mitra, com seu adorno partido em dois? E o que seria a pomba quase cagando sobre a cabeça de Deus Pai. Então a terceira pessoa da Santíssima Trindade, não é uma pessoa? É um passarim, como dizemos lá no sertão?  E este passarim não será o falcão do Deus Horus, o Deus-Sol do Egito, que os cristãos transformaram na pacífica pomba?

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

DIDO E ENÉAS, PURCELL À CURRENTZIS.



Dido e Enéas - Lamento de Dido
                                          
                                          A primeira coisa que se tem a fazer ao ouvir este lamento é ouvir, ouvir, ouvir, se você conseguir, sem chorar pela beleza da voz, da melodia, da cadência. Difícil encontrar maior doçura em outra voz. Purcell se revela, com esta obra, simples, mas profunda, um dos grandes mestres do barroco. Currentzis demonstra mais uma vez ser um grande maestro. Nesta ária ele mostrou toda sua finesse em conduzir tão dorida e refinada peça. 
                            
                            When I am laid, 
                            I am laid in earth, 
                            May my wrongs create
                            No trouble, no trouble in thy breast.
                            
                            Remeber me, remember me, but ah!
                            Forget may fate.
                            Remember me, but ah!
                            Forget my fate.
                            
                            Remember me, remember me, but ah!
                            Forget my fate.
                            Remember me, but ah!
                            Forget my fate. 

sábado, 18 de agosto de 2018






                           Teodor Currentzis, rege Dmitri Kourliandski, em The Riot of Spring.     
                          
                       Esta é uma verdadeira obra revolucionária. O erudito saiu de seu nicho e foi até o povo e mostrou que todos nós somos capazes de sentir a música e extrair sons de um instrumento. Voltei à infância ouvindo o cantar dos carros de bois. Era isto aí mesmo. Uma melopeia incrivelmente agradável aos ouvidos, não cansávamos de ouvir. Assim, o trabalho de Curretzis, assim a obra de Kourliandski. Maravilha. Quem nunca pegou num instrumento se viu de repente tocando numa grande orquestra. O mais interessantes é que por mais tosco que tenham sido os sons extraídos dos instrumentos, eles se integravam tranquilamente no espírito da obra. Uma nova visão de regência de orquestra. Me parece ser a mais audaciosa no que tange à participação do público. 

sábado, 11 de agosto de 2018

PRENDAM O ANTONIO CANOVA




                                Será que o MBL vai exigir que eu corte o pinto de Perseu? Ou vai gritar na porta do Blogspot para que se apague esta imagem indecente, corruptora de nossa juventude? 
                                 Para salvar minha pele, vou delatar, está na moda delatar, delator virou herói, antes era dedo-duro. O degenerado que fez isto foi um tal de Antonio Canova. Vocês devem se apressar em prender este sujeito que está à solta, fazendo todo tipo de imagens imorais para perverter nossa juventude. Uma dica para encontrá-lo. Ele é tirado a intelectual e frequentador de barzinhos de intelectuais, pintores, escultores, escritores, poetas, atores e dançarinos. Tenho certeza que vocês, que são muitos inteligentes, na sua busca vão terminar por prender muito mais desta gente que se diz artista, mas que em realidade não passa de corja de degenerados que chafurdam em toda espécie de vício. Espero, assim, que vocês, salvadores da pátria nos livre desta praga, o mais breve possível. Cadeia, prisão perpétua, sem direito a advogados, estes também que não passam de defensores de ladrões e toda espécie de criminosos. Que nossos juízes e promotores, ajudados por vocês, idealistas do MBL, ponham todo mundo na cadeia e lá fiquem incomunicáveis até que possamos aprovar a pena de morte, a prisão perpetua e trabalhos forçados para esta turma degenerada. Prendam este acadêmico degenerado. E pode? ser acadêmico e degenerado?
                                            

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

ALBERTO NEPOMUCENO IMPROVISO OPUS 27 Nª 2







                       
                                               Este é o improviso opus 27 nº 2, de Alberto Nepomuceno executado por Loraine Balen Tatto, cuja interpretação acho uma melhores. Muitos acham esta peça parecida com obras europeias, como Shumann, entretanto, a execução de Loraine mostra a brasilidade da  obra num compasso na medida certa, sem exibicionismo de agilidade que desvirtuasse o espírito do compositor.
                                 Nepomuceno nasceu em Fortaleza em 6 de julho de 1864, faleceu no Rio de Janeiro em 16.10.1920. Tido como pai da canção de câmara brasileira, lutou pela utilização do português, como recurso para nacionalização da linguagem musical.
                                     Em 1872 foi morar em Recife. Lá estudou piano e violino,  entrando em contacto com  professores e estudantes de direito, mantendo grandes discussões sócio-filosóficas de vanguarda, quando passou a defender causas republicanas e abolicionistas, sem contudo, deixar seus estudos musicais.
                                      Em 1887 compôs a Dança de Negros, com motivos afro-brasileiros, depois denominada Batuque, período em que compôs também Mazurca, Une Fleur, Ave Maria e Marcha fúnebre.
                                       Em 1988 foi estudar na Europa, primeiro em Roma, depois em Berlim, onde estudou, naturalmente alemão e composição.
                                          Casou-se em 1893 com a pianista Walberg Bang, aluna de Edvard Grieg, compositor norueguês, representante do nacionalismo romântico, quando foi morar na casa de Grieg em Bergen. Foi o nacionalismo romântico de Grieg que influenciou Nepomuceno que passou a se interessar pela cultura brasileira.
                                             Foi para Paris estudar órgão, em 1894, onde conheceu Saint-Saëns, Charles Bordes, Vincent D´Indy, e outros intelectuais e compositores, tendo composto, a convite de Charles Chabault, professor de grego na Sorbonne, a música incidental para a tragédia Electra.
                                                   Em 1895, em concerto histórico, apresentou pela primeira vez, no Instituto Nacional de Música, várias canções de sua autoria, em português, quebrando o uso do italiano e francês, iniciando, desta forma, a luta pela nacionalização de nossa música erudita, contrariando os críticos que diziam ser o português inadequado ao bel canto.
                                          Esta luta foi ampliada com o início de suas atividades na Associação de  Concertos Populares dirigido por ele, durante dez anos (1896/1906), período em que promoveu os compositores brasileiros. Em 1904 publicou a coletânea de canções em português, com sucesso relativo, em razão do costume em ouvirem as pessoas somente o canto em italiano.




sábado, 28 de julho de 2018

NOITE EM PARIS, O ROMANCE





http://lesenegalais.jeun.fr/t2594-noite-em-paris-conto-el-carmo#128944




                                                       

                                                  Eu comecei a escrever meu romance NOITE EM PARIS, ainda na década  de 70 e há mesmo trechos que foram escritos na década de 60, antes de ir para Paris, e outros em Paris mesmo. Ao longo do tempo fui modificando, acrescentando ou mesmo retirando trechos, como aliás, faço até hoje. Mas sempre que falo nele as pessoas lembram logo do Meia Noite em Paris, o filme de Woody Allen. Quando lhes digo que meu Noite em Paris não tem nada a ver com o filme de Woody Allen,  não acreditam. Esta publicação feita neste forum em 22.03.2009 vem comprovar o que digo. Primeiro, meu Noite em Paris não é aquela angustia pelo tempo passado, não há uma fuga do personagem para os anos vinte. Meu personagem vive o presente e o passado, mas  sem aquela nostalgia pelo passado.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

LONGE DE TI - FILOMENA VIEIRA







Tempo infinito é saudade
Tempo de espera é tormenta
Longe de ti é castigo
Ai meu amor que saudade!
Já pedi ao mar que me levasse
No ondular das suas ondas
E ele disse-me não poder
Porque o sofrimento é a grandeza da alma
Ai meu amor que saudade
Neste vazio da tua ausência
Já contei os dias
Já chorei
Mas o tempo não passa...
Senhor Deus do céu
Traga-me de volta
O meu amor da Terra Longe
Para abraça-lo
Para beijá-lo
Para dizer-lhe que sem ele
Esta  vida é uma tormenta!
                                        Filomena Vieira
                                                   
                                      Aí está Filomena Vieira. Poetisa de sensibilidade profunda que nos traduz uma saudade de sua Terra Longe e do amor que lá ficou, refletindo sobre o tempo atroz que se vai e não volta mais.

sábado, 21 de julho de 2018

A MANSIDÃO DAS ROLAS



                                                                  Maria Mamede








A mansidão das rolas
pela manhã
invade esta casa
que é meu peito
ond´este corpo meu
outrora leito
inda vive, inda arde
de paixão...
e as aves todas 
sabendo da tristura
de ser esta ave
aprisionada
chegada até mim
pela madrugada
e bebem em meus olhos
a amargura!

(Do livro A invasão dos Pássaros)




                                                 Não sei se os demais poemas do livro tem alguma coisa a ver com invasão. Este termo me atormenta, porque me remete aos Pássaros  de Hitchcock. Assustadores, os pássaros, assustador o filme, que me vi obrigado gostar pela riqueza de emoções que passa, mas vejo que também sou obrigado a gostar da Mansidão das Rolas pela paz que me passa, embora tenham elas bebido a amargura nos olhos de Maria Mamede, porque sei, tiraram-lhe o que de amargura a consumia, deixando-lhe a paz de seus arrulhos.    

segunda-feira, 18 de junho de 2018

ARTE IGNORADA







                 
                 Vejam que beleza de trabalho. E é apenas um aviso publicitário de transportes na cidade de Lurin, Peru, no século XIX. 

segunda-feira, 11 de junho de 2018

IGREJA DA LAPINHA




Interior da Igreja da Lapinha,  Salvador-Bahia.



                                          Fundada em 1771 e depois entregue à Ordem dos Agostinianos Recoletos, sofreu reformas nas quais foi introduzido o estilo mourisco, e é com certeza, a única igreja no Brasil em estilo moçárabe.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

NOITE EM PARIS





LENDO ULISSES DE JAMES JOYCE









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                                          É impressionante o número de pessoas que dizem terem iniciado a leitura do Ulisses e não a ter terminado. E olhe que não é qualquer um que diz isto. A própria Virginia Woolf alega só ter conseguido ir até  até a pagina 200. O próprio Jung confessa ter sucumbido à leitura. Se antes quando se tinha mais tempo para leitura não se conseguia terminá-lo, que se dirá de hoje em dia, com tantas diversões e fontes de informação?
                             Mas, que tem de extraordinário o Ulisses para afugentar a todos que tentam lê-lo? Também intrigante  o fato da maioria dos que falam da obra se limitar às três personagens principais, o pouco do enredo da obra e o paralelo entre a obra de Homero e nada mais. 
                            Será que o Ulisses só tem isto? É, ele o iniciador do romance moderno, como afirmam? Deixou ele seguidores, ou permanece como estrela solitária no universo da literatura?
                               Pois, eu não me envergonho de dizer que já li o Ulisses mais de cinco vezes e ainda me considero um neófito em James Joyce. Tenho comigo a tradução de Houaiss (Civilização Brasileira, 1966), uma edição da Penguim no original, uma edição em francês, traduzida com a ajuda do próprio Joyce, e a tradução espanhola José Maria Valverde. Leio-as, intercaladas, de vez em quando, tentando decifrar os enigmas e charadas que diz Joyce ter introduzindo no livro para manter professores discutindo, por séculos, seu significado, mas creiam, hoje acho que fizeram de Joyce um bicho de sete cabeças. Joyce não é bem isto. Há os que o super-estimam, e os que o subestimam. Talvez nenhum um, nem outro o tenha compreendido. Creio até, desculpem minha imodéstia, que, em alguns assuntos, o Joyce se mostre bem ingênuo. Certo que para escrever o que escreveu, naquela época, sem auxílio dos instrumentos que temos hoje,  é preciso que se tenha um grande conhecimento e isto ele demonstrou ter, razão até para que tenha Jorge Luiz Borges dito, como se dissera antes a respeito de Shakespeare,  que o Ulisses não parecia a obra de um só homem, mas de muitos. 
                                 O que mais se ressalta no Ulisses  é a inovação da linguagem, mas há também a quebra do enredo, a ausência de historinha e de heróis, presentes homens comuns. Eles bebem, se embriagam, comem, contam piadas, brigam, cagam, mijam  e peidam. Novo, novíssimo para a época. Um choque para leitores acostumados aos romances tradicionais, tanto é que Jung em artigo publicado na revista Europäische Revue diz: "Afrontei muitas páginas com desespero no coração. A incrível versatilidade do estilo de Joyce dá um efeito monótono e hipnótico" e mais: "O livro é sempre escrito em estilo muito alto, mas no entanto, longínquo, insatisfeito, irônico, sardônico,virulento, desdenhoso, triste, desesperado e amargo" e termina por dizer: "Uma obra deste tipo somente pode vir de uma pessoa com severas restrições cerebrais".  
                     Se um intelectual da têmpera de Jung fala assim, imaginem o comum dos mortais? Mas parece que é justamente aí que está a grandeza do Ulisses. Um desafio. É como jogar com um grande jogador, você só ganha com o tempo e por sorte.
                                             
                             

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

O MURO DE JEAN-PAUL SARTRE














                                              Ontem me vi lendo o Muro. O primeiro relato é exatamente O Muro que dá título ao livro. Nesta obra de sua juventude, Sarte vai nos levando a uma situação que para mim foi, no mínimo,  surpreendente. É que O Muro traz um final de Deus ex machinna  ao reverso. Não é que o personagem narrador, ao querer pregar uma peça aos falangistas, termina se salvando de uma execução? 
                               Não sei qual foi a intenção do Sartre ao escrever este conto. Seria a descrença no futuro? Não seria o contrário de todo seu pensamento posterior de que cada um escolhe o seu caminho? Como atribuir ao acaso o destino de cada um?