domingo, 22 de agosto de 2010

Danzón nº2 - Arturo Marquez -Gustavo Duhamel

Uma peça linda. Como não se encantar com ela? Uma riqueza de harmonia e ritmo. Nela toda a América. Ora ouvimos uma modinha  brasileira, compassos de samba, rumba, um pouco de tudo. A síncope sempre presente. Marcante. Do compasso 4/4 inicial, alcança-se depois colorido tão rico que não se pode ficar imune a seu feitiço. E que frescor de interpretação, que energia na interpretação! O sorriso e até as caretas do maestro transmitem uma energia contagiante e alegre a todo espectador. Tão diferente das orquestras europeias com aqueles senhores e senhoras sizudos, como estivessem tocando num enterro.

domingo, 15 de agosto de 2010

OS CUS DE JUDAS

Depois de ler A Explicação dos Pássaros, volto a António Lobo Antunes para recomeçar a leitura deste pungente relato da guerra em Angola. Vejo uma atmosfera pesada, triste e monótona onde o zumbido dos insetos se misturam ao zunido e troar das balas na savana, acompanhados de gritos e urros de dor. O homem negro mata o homem negro porque o homem branco assim o quer. Sua escrita é cortante enquanto suave. A África está lá inteira como um matadouro, um cemitério de negros e brancos condenados a lutar, não se sabe porquê, nem por quem. Do cais de Luanda à savana, à floresta impiedosa. Um só grito, um cheiro só de sangue e pólvora.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

António Lobo Antunes

Acabo de ler A Explicação dos Pássaros, um pungente relato de uma vida à procura de um sentido para a própria vida. A delicadeza da frase de António Lobo é cortada vez por outra por termos fortes e ferinos como uma navalha. É como se a vida corresse por entre verdejantes vales e de repente surgisse enormes precipios a ser transposto. O escritor português pode e deve ser entronizado como uns dos grandes escritores da atualidade em todo mundo. Pena que a lingua portuguesa ainda seja um entrave para a divulgação de obras tão preciosas como esta. Os governantes dos países de lingua portuguesa tem um pouco de culpa pela infima divulgação da língua portuguesa e de seus autores no mundo. Se gastassem menos dinheiro em divulgação de obras que não realizam talvez tivéssemos outra realidade para literatura de lingua portuguesa.