quinta-feira, 8 de novembro de 2012

TIRANO BANDERAS - RAMON DEL VALLE-INCLÁN



Quem não conhece este escritor galego deve-se apressar em conhecê-lo. Dom Ramón Maria del Valle-Inclán supera todas nossas espectativas. Criador do estilo que ele chama de esperpento, anda ele em suas obras pelos caminhos mais tortuosos  que nos faz passar pelo feio e pelo belo, pela ordem e a desordem, pela realidade nua e crua e pelo absurdo da própria realidade, fugindo do lirismo romântico que por  por muito tempo dominou a literatura, especialmente a ibérica. Em Tirano Banderas ele traça um vôo   panorâmico sobre as Américas que nem o Brasil escapa. Publicado em 1926, faz uma crítica feroz ao caudilhismo latino-americano, apresentando-nos todos os fantasmas de nossa sociedade, o que por fim percebemos que muito do que se passou nestas plagas, continuam acontecendo, a despeito do progresso alcançado por muitas nações, de cujos benefícios ficam restrito à uma classe dominante, já que a massa de índios, cholos, caboclos, mestiços  e negros estão alijadas do processo de acumulações de bens e serviços a que tem direito pela contribuição que dão com sua força de trabalho. É só andar um pouco por nossos campos e  favelas, bidonvilles e barrio bajo para se perceber que ainda temos muitos Tiranos Banderas entre nós. E o que é pior eleitos e adorados por nós, como aconteceu recentemente na Bahia de Todos os Santos e Orixás. Os grandes conglomerados do capital internacional são os novos guachupines  que impõem seus preços nas mercadorias, sua política no Congreso, seus juízos nos Tribunais, influenciando modismo na forma de vestir, falar e comer, tornando-nos uma massa de criolos abobalhados com as tecnologias que vem de fora e envergonhados de termos nascido onde nascemos. Valle-Inclán, ele próprio guachupin, posto que espanhol, nos espanta com sua denúncia do domínio estrangeiro sobre as ex-colônias na America Latina ao mesmo tempo que denuncia os caudilhos surgidos nestas terras impondo terror e morte em nome de uma suposta ordem e amor à terra. Que bela ironia.

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